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eu só sei chorar
Pouco me agrada ver pessoas tristes. Não suporto olhos marejados ou chorosos. Mesmo. Fico desconcertado, perco a noção de atitude. Nem sei o procedimento com quem chora. Abraçar? Chorar junto? Procurar fazer o outro rir? Consolar, talvez? Desconheço minhas medidas.
Irmão tirânico que eu era por vezes me peguei rindo das lágrimas fraternas. Um riso constrangido de quem não sabe se comportar. Não tenho classe ou delicadeza de boas educações. Venho de lugar simples, onde faca é artigo de convencimento. E conversa é luxo.
Também já percebi vezes em que defronte lágrimas alheias tornei-me pedra. Estátua de um qualquer, governanta alemã. Ser incapaz de assumir um toque. Por instantes rude, grosseiro, agressivo. Já vi um conhecido chorando e desviei meu rumo. Para não ter de pensar o que fazer.
Evito, pelo mesmo motivo, eventos e manifestações associados às lágrimas. Incluo na lista procissões de Sextas-Feiras da Paixão, velórios, festas de quinze anos e jogos de futebol. Assim como as lágrimas de dor ou de tristeza, não administro bem lágrimas alegres. Dá inveja.
Tudo porque gosto de chorar, seja qual a causa. Creio num poder catártico do choro, encaro como ritual sagrado o direito de cada um se descabelar. Ou de deixar uma pequena gota rolar no canto dos olhos. Tenho em mim que chorar é ato solitário, algo para se provar sozinho. Se for para dividir que seja no máximo entre duas pessoas: você e quem se queira bem.
Lágrimas são bens, precisam ser gastas. E quanto maior a parcela usada mais se tem lágrimas para derramar. O dia hoje me pede o uso de algumas delas. Usarei as tristes, as saudosas, não aquelas amargas. Essas eu quero morrer com o estoque cheio. Várias lágrimas, um destinatário. Tocar as pessoas com um sorriso é para mim simples. Despertar o sorriso naquele por quem se chora nem tanto. É o que espero.
(Texto: Marcelo B. Título: Mary C.)
eu só sei chorar
Pouco me agrada ver pessoas tristes. Não suporto olhos marejados ou chorosos. Mesmo. Fico desconcertado, perco a noção de atitude. Nem sei o procedimento com quem chora. Abraçar? Chorar junto? Procurar fazer o outro rir? Consolar, talvez? Desconheço minhas medidas.
Irmão tirânico que eu era por vezes me peguei rindo das lágrimas fraternas. Um riso constrangido de quem não sabe se comportar. Não tenho classe ou delicadeza de boas educações. Venho de lugar simples, onde faca é artigo de convencimento. E conversa é luxo.
Também já percebi vezes em que defronte lágrimas alheias tornei-me pedra. Estátua de um qualquer, governanta alemã. Ser incapaz de assumir um toque. Por instantes rude, grosseiro, agressivo. Já vi um conhecido chorando e desviei meu rumo. Para não ter de pensar o que fazer.
Evito, pelo mesmo motivo, eventos e manifestações associados às lágrimas. Incluo na lista procissões de Sextas-Feiras da Paixão, velórios, festas de quinze anos e jogos de futebol. Assim como as lágrimas de dor ou de tristeza, não administro bem lágrimas alegres. Dá inveja.
Tudo porque gosto de chorar, seja qual a causa. Creio num poder catártico do choro, encaro como ritual sagrado o direito de cada um se descabelar. Ou de deixar uma pequena gota rolar no canto dos olhos. Tenho em mim que chorar é ato solitário, algo para se provar sozinho. Se for para dividir que seja no máximo entre duas pessoas: você e quem se queira bem.
Lágrimas são bens, precisam ser gastas. E quanto maior a parcela usada mais se tem lágrimas para derramar. O dia hoje me pede o uso de algumas delas. Usarei as tristes, as saudosas, não aquelas amargas. Essas eu quero morrer com o estoque cheio. Várias lágrimas, um destinatário. Tocar as pessoas com um sorriso é para mim simples. Despertar o sorriso naquele por quem se chora nem tanto. É o que espero.
(Texto: Marcelo B. Título: Mary C.)
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