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para começar o dia bemA sociedade moderna devia permitir que nossa vontade fosse plenamente realizada ao termos o mínimo pressentimento de que não devemos sair da cama naquele dia. Isso deveria acontecer até uma vez por mês.
Levantei hoje, sem muito sono, mas sem muita vontade de fazer qualquer coisa também. Me arrumei, arrumei a bendita mochila de academia e fui [bem lentamente, mas fui].
Quando virei a esquina vi que tinha perdido o ônibus [uh huh!]. Ok, 12 minutos de espera. Vamos ouvir uma musiquinha.
Estava eu lá, tentando me animar ["
quiero que esta noche soltes toda esta alegria que no se puede guardar"] quando vejo um cara esquisitíssimo vindo da outra esquina com uns papelões embaixo do braço. Então pensei: "Coitado... é um excluído social, sem oportunidades."
Ele deve ter lido meus pensamentos de moça boazinha e politicamente correta, pois logo se aproximou e fez um sinal pra eu tirar o fone pra que ele falasse comigo.
_ Oi, tudo bem? [Sim, essa foi a frase do cara]
_ An hãn. [Com cara de que não queria saber da história de vida dele]
_ Olha, eu vou contar a verdade pra senhora, dona. É o seguinte... eu tô aqui com esse papelão, catando papelão, mas na verdade eu sou fugitivo da polícia.
_ An... [Com cara de "agora é que eu não quero meeeeeeesmo saber a sua história de vida"]
_ E é o seguinte, eu estou aqui com 5 pedras de crack no bolso que eu preciso levar lá na favela, lá no buraco do Peru. Mas eu vou falar a verdade pra senhora, eu não vou te assaltar nem nada. Eu tô ferrado aqui no bolso. Tô com uma arma aqui no bolso [Ele mesmo traduziu!] e o meu irmão que está atrás da senhora, NÃO OLHE!, também está.
_ An... [E eu com uma cara de "que saco... eu gosto tanto do meu celular... ainda tem fotos na memória dele... vou perder toda a minha agenda..."]
_ Então eu quero o seguinte, só dois reais pra eu pagar o táxi pra me levar até a favela. O taxista me cobra cinco reais pra me levar até lá.
_ Ah, tá. [Com cara de "uai! Fácil assim? Dois reais tá aqui na mão, eu ia pagar o ônibus, mas posso te dar feliz! Melhor do que perder meu dinheiro, meu celular e tudo.] Toma aqui.
_ Olha, o taxista cobra cinco reais. Eu quero cinco reais!
_ ... [Com cara de "mas você não pediu dois, porra?!" Mas achei melhor não falar nada...]
Abri a mochila calmamente lembrando que dentro da mesma bolsinha de moedas tinham 100 reais. Ok, seria bem feito se ele me levasse 100 reais pra eu aprender a não andar com dinheiro atoa.
Fazendo o maior malabarismo pra ele não ver o dinheiro na bolsinha, tirei os 10 reais que eu tinha [não tinha mais nada trocado] e dei pra ele.
_ Obrigado dona. Não fala nada, por favor. Não olha pra trás e não fala nada.
_ Tá. [Com cara de "tá! agora que já acabou com meu dia, vai embora por favor?"]
E ele foi. Finalmente. E eu fiquei lá, com aquela cara de "ai... que saco... primeiro assalto do ano. Ai.. vou subir e pegar um táxi, ou pegar o carro lá em casa".
Ah é? E você acha que ele ia pegar táxi onde? Dã. No mesmo ponto.
_ Ah! Que bom! Agora eu fico aqui no ponto, não posso subir e pegar um táxi, não posso ir pra casa e não posso olhar pra trás! Vai que o irmão dele tá aqui me vigiando. Que saco! Que saaaaaaaaaaco! - pensei.
(. . .)
_ E agora? Eu pego o primeiro ônibus e desço no centro? Que droga! Bem que meu ônibus podia chegar, né? Que saco! Que saaaaaaaaaco! - pensei.
(. . .)
_ Ah, bunita. E como é que você espera pagar o seu ônibus sendo que o idiota incompetente que não sabe nem ganhar dinheiro sendo traficante levou todo o seu dinheiro trocado? - disse pra mim memsma mentalmente.
(. . .)
Finalmente o 4405 chega...
_ Moço, você troca 50 reais?